O OLHAR DE JESUS
“Imediatamente, enquanto ele ainda falava um galo cantou e o Senhor,voltando-se, fixou o olhar em Pedro.” (Lc 22,60)
Ao falar sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, nós não podemos nos fixar e meditar somente o momento do Calvário. Devemos nos ater em cada gesto e palavra, desde a condenação, durante todo o caminho e até a sepultura. Na verdade, no Antigo Testamento e desde a Encarnação há prenúncios do Amor Supremo, sofrido por paixão eterna. Cada passo de Jesus é uma história, cada palavra, gemido, gota de sangue que Cristo fez acontecer é uma vida, um recomeço na nossa história, na nossa condição mortal.
Ah... Quem me dera poder, sábia e profundamente, enxergar a paixão do Senhor Jesus. Como eu queria, purificado, olhar para entrar e me perder em seu caminho sagrado, pois lá perdido estaria encontrado em seu preciosíssimo sangue, em suas gloriosas chagas!
No caminho para o Calvário Jesus se deparou com pessoas marcantes e que são para nós exemplos. Hoje me chamou a atenção, por vários fatores, o olhar de misericórdia de Jesus para Pedro, o Apóstolo de coração bom, mas amedrontado. Quem não se parece com Pedro em algum aspecto? Quem não pensou que estava certo enquanto falhava? Essa é a raça humana, tentada pela concupiscência. Esse é o povo que Deus escolheu para realizar o seu plano de amor.
Nem quente nem frio: esse é o estado em que nos encontramos na maior parte do tempo. Pedro corria para ver Jesus passando, mas o negou, por medo, incerteza, dúvida. Há outro lado em tudo isso, mas só enxergamos a “covardia”, a “santa covardia” de Pedro. Ele errou, pois não sabia o que fazer, afinal, aquele que o seduzira e o prometera o céu estava para ser morto. Com certeza ao cantar do galo, Pedro viu ali a realização profética da graça bendita e mais uma vez recomeçou. O nosso recomeçar é um credo colocado em prática.
Por isso que, quando negamos conhecer Jesus, devemos ter cuidado, pois estaremos fugindo de ser crucificado com o Cristo para a salvação. Mesmo com a nossa negação, Deus não desistirá de nós e missões ainda nos confiará. Guardadas todas as palavras em nosso coração, devemos praticá-las por amor, para que haja verdadeira recíproca com o Bem Amado de Deus.
As nossas lutas constantes nos levam, talvez, a momentos de dúvida onde somos mornos, fracos. Nessas horas nós negamos muito a Deus, pois queremos colocar limites, regras e até modos prontos para relacionarmo-nos com Deus. Negamos e Jesus passando nos olha e tem piedade. É como se ele dissesse: “eu avisei” e ainda: “não desista”, confirmando: “eu te amo”. Não há quem tanto prove o amor por nós do que Nosso Senhor Jesus.
As pessoas nos acusam e a nossa reação é fugir das mesmas, queremos paz e não perturbações. Mas tudo tem seu preço e também tudo acontece conforme a vontade de Deus. Em tudo devemos perceber a ação capacitadora do Senhor. E, quando ele nos envolver com o seu olhar fixo, façamos o mesmo e recomecemos.
O perdão e o amor de Deus por nós é uma oportunidade para fazermos nova história, vestir novas vestes, provar o nosso amor verdadeiro e lutar para que estejamos sempre à espera daquele que tanto nos quer. Será que Jesus olhou com medo? Sim. Será que ele olhou para Pedro com medo de seu abandono? Não se sabe! Mas, há ali o perdão, há ali tudo o que o homem precisa e tudo o que Pedro precisou para recomeçar: lembrou-se do que fez, chorou e prosseguiu.
A verdadeira atitude cristã não é a de se enterrar após uma queda, mas é a de se erguer e caminhar confiante e mais fervorosamente. Eis que nosso Deus vem com poder! Sua Paixão veio para nos livrar da morte. Há esperança, há luz, há o amor! Portanto, há vida, e vida nova, em abundância.
Como Pedro, choremos, mais recomecemos. O Senhor faz nova todas as coisas, o véu se rasga e a terra estremece perante seu poder. Eis, é o Senhor, ele vem com poder, fixa o seu olhar em nosso olhar e nos perdoa e ama. Galos cantam a todo o instante nos lembrando que nós negamos a Cristo, só que o olhar do Senhor penetra mais fundo! Força é o que nos dá o Senhor. Recomecemos, a Paixão do Senhor é o início da vida nova!
por Israel Sobrinho-OFMconv
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