I. Como podes tu, Minha filha, esperar salvar-te enquanto não cessares de seguir o caminho que te conduz a perdição? Entre esse grande número de jovens cristãs que agora estão no inferno nenhuma queria ir para lá; pelo contrário, esperavam o paraíso. Mas uma foi surpreendida repentinamente pela morte em estado de pecado; outra por causa das suas grandes iniqüidades, muitas vezes renovadas, privada justamente dessas graças particulares tão necessárias para uma verdadeira conversão; aquela cativada pelo prazer criminoso que o pecado apresenta, não tendo sabido nem querido retirar-se da senda da perdição para onde corria dizendo: Ainda mais esta vez, ainda esta vez, depois cessarei: - aquela outra, deixando-se cegar pelo demônio a ponto de se persuadir que no momento da morte poderia reparar tudo por uma boa confissão. Ei-las todas precipitadas nos abismos onde são, para Deus, e para Mim, objeto de uma eterna inimizade.
São inumeráveis, ó Minha querida filha, as ciladas armadas pelo inimigo, e desgraçado de quem se não aplica a evitá-las. São terríveis os julgamentos de Deus, e desgraçado de quem abusa da Sua bondade para ofender com mais audácia. Se para a salvação, ó Minha filha fosse suficiente o desejo dela ninguém iria para o inferno, porque ninguém é tão louco que queira condenar-se.
Mas o desejo não basta, se se não vive de modo a merecer o céu. Portanto quem te tornará digna dele, ó Minha filha? Será a dissipação, as vaidades, as imodéstias, as conversações livres? serão a tua alegria folgazã, a tua língua desenfreada, a tua desobediência, a tua indocilidade, a tua indevoção? Ah! eis aí o caminho que conduz à perdição! tu segue-o, corres nele e queres gabar-te de te salvares! Caminhando para o inferno aspiras chegar ao céu. Que loucura e que cegueira.
II. As ilusões de que o demônio se serve para te cegar e que lhe tem bom êxito junto de muitas outras, é a esperança de se converterem à hora da morte e fazerem nesse momento uma boa confissão que faça obter a salvação. Ah! esperança desarrazoada, ou antes, temerária presunção que tem precipitado tantas no inferno. Se tu não te confessas bem agora, como poderá aplicar-te a isso? O inimigo infernal, redobrando com fúria os seus ataques, porá tudo em campo para te excitar a abandonares-te ao desprezo, umas vezes exagerando a enormidade das tuas culpas, outras fazendo-te ver a Deus inexorável para com elas. Mas quando mesmo tivesses bom êxito em te confessar, farias verdadeiramente um boa confissão? Carecias para teres essa ventura uma graça das mais notáveis. Mas porque razão te concederia Deus essa graça? Para recompensar-te os pecados cometidos durante toda a sua vida? Por teres sempre abusado da graça quando tu podias e devias aproveitá-la?
Ah! Minha filha, não experimentes a Deus. Escuta a Sua voz que te chama. Aproveita bem o tempo presente não reserves a tua salvação para essa hora de agonia em que o tempo te faltará. Cada um recolhe no momento da morte o que semeou durante a vida. Aquele que durante a sua vida não tiver semeado senão a iniqüidade, não poderá recolher na morte senão frutos amargos de condenação. Vós Me procurareis, dizia Meu divino Filho aos pecadores obstinados no vicio, vós Me procurareis nesse momento terrível, mas não Me encontrareis e morrereis com o vosso pecado. Não retardes, pois de dia para dia, ó Minha filha, entregar-te a Deus, senão queres por fim ser surpreendida pela Sua cólera e se não queres condenar-te.
III. Considera Minha filha, uma outra causa fatal pela qual muitas têm sido condenadas, não obstante a vontade de salvarem, que poderia chegar-te também. Elas têm cogulado a medida dos seus pecados no momento mesmo em que menos nisso pensavam. Deus fez tudo com peso, número e medida. Contou todos os dias, todas as horas da tua vida, todos os teus passos, todas as tuas respirações, todos os cabelos da tua cabeça, e nenhum deles pode cair sem a Sua permissão.
Cada palavra frívola pronunciada pelos homens será examinada no dia do Julgamento disse o Meu divino Filho aos fariseus. Se, portanto as palavras frívolas que tens pronunciado em tão grande número durante o dia forem julgadas severamente, quantas serão imodestas, más, injustas! Aquele que toma conta dos cabelos da nossa cabeça, tomará mais conta dos pecados que perdoa e das graças que quer fazer. Ora essas desgraçadas têm cometido tantos pecados, que chegaram enfim a esse ponto fatal onde as esperava a justiça divina. Cortando-lhes então o fio da vida, precipitou-as no inferno.
Podes tu dizer agora, ó Minha filha, que não tens cometido ainda bastantes pecados? Não temes fatigar a misericórdia divina? Desgraçada de ti se repletas a medida dos teus pecados. A justiça ocupará, então o lugar da misericórdia, e a paciência cansada trocar-se-á em furor. Ó Minha filha! quantos foram vítimas da justiça divina por não terem querido aproveitar a misericórdia que os esperava se se tivessem arrependido! Quantos não têm tido tempo de lançar os seus olhares para o céu que tinham sempre desprezado!
Ah! pensa que o primeiro pecado que cometeres poderá ser aquele que cogulará a medida e te enviará para o inferno.
Afeto. Tenho, pois sido eu mesma augusta Rainha do céu, uma dessas almas enganadas. Não é senão verdade! os atrativos dum prazer criminoso têm-me feito cometer o mal; surda às censuras da razão e aos gritos da consciência. Deus iluminou-me com a Sua luz e desprezei-a; a Sua voz chamava-me ao arrependimento, eu fechei obstinadamente os ouvidos a fim de continuar os meus desvarios com a confiança que poderia um dia repará-las por meio da confissão Não refletia no tesouro de cólera que se amontoava sobre mim para o dia das vinganças divinas, não refletia que quanto mais me abandonasse às minhas paixões, mais elas imperavam sobre mim, mais o demônio me cingia com os seus laços, mais me tornava indigna duma graça de que carecia para uma verdadeira conversão, mais aumentava as dificuldades dum sincero arrependimento.
Ai! quanto está crescida a medida das minhas iniqüidades! Quanto devo temer que ela esteja no momento de ficar repleta! Ó Deus justíssimo e misericordiosíssimo de que modo apareceria perante o Vosso tribunal terrível, se Vós me tivésseis notificado isso antes das reflexões que hoje faço? Bastavam as minhas palavras frívolas criminando-me, para ser imensa a multidão dos meus pecados.
Ó Mãe Santíssima, se não visse em meu Jesus crucificado um Pai compassivo de quem os braços estão sempre abertos para acolher-me sobre o Seu coração; se não achasse em Vós um socorro poderosíssimo, teria alguma razão de desesperar da minha salvação. Quero sem demora dum instante aplicar-me o remédio que se me oferece. Ligada a Cruz de Jesus Cristo, ligada a Vós, espero obter misericórdia para as culpas passadas, e força e graça para não mais as cometer para o futuro.
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