O sentido visual - Modéstia baluarte que nos protege a débil virtude

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O sentido visual
Modéstia baluarte que nos protege a débil virtude


De todos os sentidos, a vista é o mais rápido, o que escapa mais facilmente à censura da razão, exigindo portanto uma vigilância mais atenta. Deus nos deu o sentido da vista, primeiro, para contemplar-Lhe as obras, e, segundo, para mil empregos necessários; não há função útil, nem dever importante, que possamos desempenhar sem ele. Quem é responsável por outros, deve usá-lo para velar sobre seus inferiores. É preciso, portanto, moderá-los e não destruí-los.

De quantos olhares inúteis nos podemos privar; a quantos espetáculos curiosos podemos renunciar; quantos objetos fúteis podemos deixar de considerar! Ao lado destes, a vista encontra, não raras vezes, objetos perniciosos. Quem não sabe desviar o olhar de espetáculos frívolos, está muito exposto a não se privar de olhares indiscretos e ilícitos. Virtudes que pareciam inabaláveis, falharam, fracassaram por esse meio. Davi servira fielmente ao Senhor em ocasiões difíceis, dera provas de confiança, de coragem, de piedade, de zelo, e eis que um olhar que não soube reprimir excitou-lhe na alma paixões ardentes que lhe causaram danos pavorosos.

Quão mais felizes, quão mais garantidos estão aqueles que, como o santo patriarca Job, fizeram um pacto com seus olhos e não lhes permitem satisfazer a todos os caprichos! A paz de que gozam transparece, reflete-se no exterior. É a modéstia. Não é virtude sem importância esta da qual nosso Senhor nos deu tão cabal exemplo:

"Suplico-vos pela modéstia do Cristo", dizia São Paulo aos cristãos de Corinto (2 Cor. 10,1).

Assim como muitos não dão a devida importância à paz interior, assim também outros não compreendem o valor dessa paz exterior, dessa virtude que modera e dirige os sentidos, principalmente o da vista, como a paz interior domina e dirige as potências da alma. Sem a paz o espírito se entrega a mil divagações, e a vontade a toda sorte de desejos frívolos; a imaginação cria continuamente e persegue ilusões e fantasias.

Sem a modéstia, os sentidos abrem-se de todos os lados e pelas aberturas entram os inimigos da alma; quem não for modesto, nunca será senhor de si; os mínimos objetos o preocuparão e lhe excitarão a concupiscência; os menores acontecimentos o dissiparão; as tentações lhe penetrarão na alma livremente; quererá tudo ver, saber, provar, exceto aquilo que é bom e salutar.

Sem a guarda dos sentidos, os cuidados, mais assíduos e carinhosos, dispensados à alma, serão inúteis: como um vaso fendido deixa escapar os mais preciosos líquidos, assim também essa alma toda difundida pelos sentidos perderá rapidamente as boas impressões recebidas.

A modéstia é o baluarte que nos protege a débil virtude e a põe ao abrigo das incursões do inimigo; é a muralha que defende nossa riqueza; é também o adorno das almas fiéis, cujos encantos realça, tornando-as mais belas e atraentes aos olhos do Esposo divino.

O mundo, todavia, não aprecia as almas modestas; sabe que nada tem a esperar delas; sua atitude recolhida repele os espíritos mundanos, que instintivamente delas se afastam, deixando-as servir em paz ao divino Mestre.

É utilíssimo, pois, adquirir essa modéstia cristã, e nunca será demasiado o ardor empregado em sua conquista. Custa mortificar os sentidos, custa conter o sentido da vista, sempre tão errante; mas, de fato, reprimir a liberdade do olhar é privar-se de uma satisfação pequena e passageira, para alcançar outra muito maior e eterna.

No céu, gozaremos de Deus com todas as potências de nossa alma, atingi-lo-emos em si mesmo, pelas nossas faculdades espirituais, inteligência e vontade; quanto às faculdades sensitivas, de que nos será dado fruir depois da ressurreição geral, serão mergulhadas no deslumbramento por espetáculos maravilhosos, melodias de uma suavidade inefável e perfumes deliciosos. Quem, pelo amor de Deus, se tiver privado na terra da santificação dos sentidos, dos prazeres da vista, gozará, em maior abundância, de todos os bens celestes. Sua inteligência, mormente, penetrará, mais a fundo, as infinitas grandezas de Deus; seu coração se deleitará mais suavemente no amor divino; luzes mais cintilantes lhe iluminarão a alma.

Tais pessoas renunciaram a prazeres fúteis e, em troca, Deus mesmo a elas Se comunicará, Deus, o alimento dos eleitos, o pão eterno que terão ganho com o suor de seu rosto, Ele as alimentará, as saciará, sem jamais as enfastiar.

(O caminho que leva a Deus, pelo Cônego Augusto Saudreau, edição de 1944)

PS: Grifos meus.
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, pelas postagens e pelo belo "blog", a começar pela estética, de muito bom gosto e à altura de "Nossa Mãe Celestial".

Embora seja homem, desde o final do ano passado, venho acompanhando este "blog". As mulheres desta comunidade missionária estão de parabéns.

Concordo com o que ando lendo aqui e noutros "blogs" católicos. É uma pena que grande parte das pessoas perderam a noção das coisas.

A maioria dos homens se tornaram escravos da pornografia e, sem perceber, idólatras do sexo, com repulsa a compromisso e vendo a mulher como simples objeto...Mas esses não querem saber, querem aproveitar a vida, como se não houvesse morte...

Estou um pouco isolado porque já perceberam que não compactuo com muitas atitudes de meus camaradas homens e até das mulheres, algumas delas já andaram dizendo que sou chato, somente porque não me comporto como a maioria e infelizmente muitos estão dentro de nossa igreja e, pior, até as mulheres que estão na faixa dos 40 ou até mais se comportam como a maioria!!!

Há muito que não vejo mulheres como vocês, com esta postura corajosa, principalmente dentro de nossa tão atacada e sofrida Igreja.

E, me desculpem, tenho de fazer um desabafo, e um triste desabafo: Estou com quase 44 anos de idade e acho que já perdi a esperança de encontrar uma esposa "verdadeiramente católica" para que possamos formar uma família e "educar" e preparar nossos filhos para a vida, porque o que vejo por aí, principalmente nas mulheres em geral me causa pavores!

É uma pena que nesta cidade e neste estado de Rondônia não haja missionárias e mulheres tão dedicadas e corajosas como vocês.

Feliz ano novo para vocês todas e suas famílias.

Dejota (Vilhena - Rondônia)

Anônimo disse...

Com a permissão das missionárias, apenas acrescento e retifico um trecho de meu comentário ontem. Após ler belíssimos textos de "blogs" como "Almas Castelos" e "Borboletas ao Luar", sinto que não perdi a esperança de encontrar uma esposa "verdadeiramente católica", como dissera ontem; eu achava que tinha perdido a esperança, mas hoje senti que não. Isso é bom, sinal de que nunca nem tudo está perdido.

A prova é que existem mulheres como vocês e outras iguais espalhadas pelo mundo pela Santa Providência Divina.

Dejota (Vilhena - Rondônia)

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