Como a mulher se veste hoje

terça-feira, 16 de outubro de 2012



Por Daniel Pinheiro

Há algum tempo soubemos que um primo de nossa família, que mora no interior do Ceará, passou por uma grande dificuldade. Um dia, ligaram para ele de uma loja de São Paulo, dizendo que ele tinha uma dívida lá de mais de mil reais. Ele nunca foi pra São Paulo, e nunca fez compras nessa loja.
Ele descobriu, com isso tudo, que algum espertinho tinha aberto uma conta com os dados dele – identidade, CPF, e nome completo – em um banco de São Paulo, e tinha conseguido um certo crédito, usando-o para gastar mais de dois mil reais em várias lojas. Foi um tormento para ele provar que não tinha nada a ver com aquilo. Engraçado que ele não tem muitas contas, nem faz muitas compras por aí para que o número de seus documentos fique circulando pelo mundo. Depois disso tudo, ele redobrou os cuidados. Afinal de contas, seu nome e o número de seus documentos tinham sido usados por outras pessoas para proveitos egoístas.
Fiquei pensando, então, sobre a importância de guardar aquilo que é nosso, que tem valor para nós, para que não seja usado por pessoas que muitas vezes nem conhecemos. Imagine que uma grife quisesse divulgar uma nova moda de estampar nas camisetas o nome completo, o número do CPF e da identidade da pessoa. Creio que essa moda não ia pegar.
Ninguém, em sã consciência, sai por aí divulgando seus dados pessoais.
No entanto, temos algo de muito mais valioso que nosso nome, nosso dinheiro ou nossos documentos. É o nosso próprio corpo, que faz parte, da maneira mais íntima possível, do “todo” que somos como pessoas, como seres humanos.
Percebem como é ilógico que a moda e sociedade ditem parâmetros que fazem as mulheres mostrarem demais seu corpo? Ficaríamos surpresos com alguém que estampasse na camiseta o nome completo e o número dos seus documentos. Afinal de contas, alguém poderia usar aquilo para fins não muito bons, em detrimento da própria pessoa. Muito mais, porém, deveríamos nos espantar ao ver mulheres que mostram demais o próprio corpo, que é muito mais valioso do que nome ou documentos. Assim, de certo modo, elas se permitem ser usadas por aqueles que, certamente, olharão para ela com luxúria. Há prejuízos na dignidade tanto de quem olha como de quem é vista.
Tudo isso nos faz pensar como é sedutor o discurso da moda, da sociedade, da “revolução sexual”, para que tenhamos chegado ao ponto de considerar normal, natural, e desejável esse tipo de “uso” do corpo.
O Papa João Paulo II disse que há uma oposição entre o amor e a atitude de “usar” uma pessoa para o próprio deleite. Ele chama essa atitude de “utilitarista”, e lhe faz muitas críticas. Segundo ele, “o utilitarismo introduz uma relação paradoxal: cada uma das duas pessoas toma fundamentalmente a atitude de assegurar o próprio egoísmo, e ao mesmo tempo concordar em servir ao egoísmo do outro, desde que isso lhe ofereça a ocasião de satisfazer o próprio egoísmo. (…) [Essa atitude] prova essencialmente que a pessoa (…) se rebaixa ao nível de meio, de instrumento, (…) [o utilitarismo] é uma espécie de antítese do amor” (Amor e Responsabilidade, p. 33).
Para João Paulo II, só o amor dignifica a pessoa. Em suas palavras, “a pessoa é um bem tal que só o amor se relaciona com ela própria e plenamente”.
E então? Que tal agora se perguntar sobre a maneira como me visto e me comporto? Será que ela está induzindo o outro a me ver como um “instrumento” para seu prazer, em uma atitude “utilitarista”? Ou será que ela está suscitando no outro o desejo de me amar pela minha pessoa inteira, corpo e alma, e não só o corpo?

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