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O que é amar?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Retirado do livro Namoro do professor Felipe Aquino, editora Cléofas.

O namoro é um aprendizado do amor. Fomos criados para viver o amor. Sem ele o homem e a mulher não podem ser felizes. Mas, afinal, o que é amar? O que leva muitos casamentos ao fracasso é a noção falsa que se tem do amor hoje. Há no ar uma “caricatura” do amor. Se eu lhe der uma nota de cem reais falsa, você não aceitará, pois ela não vale nada, e você ainda poderia ser incriminado por causa dela. Se você construir uma casa usando cimento falsificado, cuidado por que ela poderá desabar sobre a sua cabeça. Se você levar para o casamento um amor falso, ele certamente desabará, pois o “cimento” da união é o amor. Para mostrar bem claro o que é amar, vamos iniciar mostrando o que não é amar. Amor não egoísmo; isto é, preferência por mim, mas pelo outro. Se você come uma fruta com gosto, não pode dizer que a ama. Se você treme de paixão diante de uma menina, e lhe diz : “eu te amo”, esteja certo de que você está mentindo, pois esta tremedeira é sinal de que você quer saciar o seu ego desejoso de prazer. Isto não é amor, é paixão carnal, é egoísmo. Se você está encantada com a beleza dele e se desdobra em declarar o seu amor por ele, saiba que isto também não é ainda amor, pois amor não é pura emoção ou sentimento.

Amar é muito mais do que isso, pois não é satisfazer a si mesmo, mas ao outro. Quando você disser a alguém “eu te amo”, esteja certo de que você não quer a sua própria satisfação ou felicidade, mas a do outro. Cuidado com as “caricaturas” do amor porque são falsas, e não podem fazer a felicidade do casal. Todo jovem tem sede de amar, mas muitas vezes o seu amor é mascarado e se apresenta falso e perigoso. Amar não é apoderar-se do outro para satisfazer-se; é o contrário, é dar-se ao outro para completá-lo. E para isto é preciso que você se renuncie, se esqueça. Você corre o risco de, insatisfeito, querer apaixonadamente agarrar aquilo que lhe falta; e isto não é amar. Assim o amor morre nas suas mãos. Você só começará a compreender o que é amar, quando a sua vontade de fazer o bem ao outro for maior do que a sua necessidade de tomá-lo só para si, para satisfazer-se. São precisos oito anos para formar um médico, dez anos para se defender uma tese de doutorado. Para amar de verdade, será preciso uma longa preparação, porque somos egoístas. Sabemos, que a pressa é inimiga da perfeição. Há um provérbio chinês que ensina que tudo aquilo que quisermos construir sem contar com o tempo, ele mesmo se incumbe de destruir. Se você pintar uma parede que ainda está molhada, vai perder o serviço e a tinta. Se você tirar a comida do fogo antes de cozinhá-la, você vai comê-la ainda crua. Se você não aprender de verdade a amar, poderá construir um lar oscilante e de paredes frágeis, que poderão não suportar o peso do telhado.




As paixões sensíveis da adolescência não são o autêntico amor, mas a perturbação de um jovem que encontra diante de si os encantos e a novidade da masculinidade ou da feminilidade. É fácil entender que aqueles que quiserem construir um lar sobre este chão de emoções, estarão construindo uma casa sobre a areia. Muitos casamentos desabaram porque foram realizados “às cegas”, sem preparação para que houvesse harmonia, sem o aprendizado do amor. Amar é dar-se, ensina´nos Michel Quoist. É dar a si mesmo ao outro para completá-lo e construí-lo. Mas para que você possa verdadeiramente dar-se a alguém, você precisa primeiro “possuir-se”. Ninguém pode dar o que não possui. Se você não se possui, se não tem o domínio de si mesmo, como, então, você quer dar-se a alguém? Como você quer amar? A aspiração mais profunda do homem é amar, é a sua “razão de ser” ; mas há muitos mal-entendidos sobre o amor. O amor é hoje uma palavra tão mal usada, tão gasta, que é preciso ser redefinida para ser autêntica. O maior engano que existe hoje sobre o amor, é que, na maioria das vezes, quando alguém fala que está amando, na verdade está amando a si mesmo. Isto não é amor; é egoísmo. Há muitas “miragens” do amor.
Se o seu coração bate acelerado diante de alguém que o atrai, isto é sensibilidade, não chame ainda de amor. Se você perdeu o controle e se entregou a ele, isto é fraqueza, não chame isto ainda de amor. Se você está encantada com a cultura dele, fascinada pela sua bela carreira, e já não consegue mais ficar sem a conversa dele, isto é admiração, ainda não é amor. Mesmo que você esteja até às lágrimas, diante de um fato chocante, isto é mais sensibilidade do que amor. Amar não é “ser fisgado” por alguém, “possuir” alguém, ou ter afeição sensível por ele, ou mesmo render-se a alguém. Amar é, livre e conscientemente, dar-se a alguém para completá-lo e construí-lo. E isto é mais do que um impulso sensível do coração; é uma decisão da razão. Por isso, amar é um longo aprendizado, não é uma aventura como a maioria pensa. Não se aprende a amar trocando a cada dia de parceiro, mas aprendendo a respeitar o mesmo, tanto no corpo quanto na alma. Amar é uma decisão. E a decisão não é tomada apenas com o coração, empurrado pela sensibilidade. A decisão é tomada com a razão. Amar não é um ato intuitivo, mecânico, é uma decisão livre e consciente. É um ato da vontade, do querer. Para amar é preciso aceitar “perder-se”, esquecer-se, não voltar a si mesmo. É claro que a sensibilidade ajuda você a sair de si mesmo, mas ela não é suficiente para levá-lo a amar. A admiração pelo outro, a afeição, empurram você para ele, mas isto ainda não é amor. Lembre-se, o amor é como uma via de mão única, que sai de você e vai até o outro. Esta é a verdadeira avenida do amor.


É preciso estar sempre atento para não andar na contramão nesta avenida. Isto ocorre quando você está pensando só em você mesmo, se apossando das coisas ou da pessoa do outro, para satisfazer-se. São João Bosco, o grande educador dos jovens, ensinava-lhes que “Deus nos colocou neste mundo para os outros. É o sentido da vida. É o amor! Não existe outra maneira de ser verdadeiramente feliz. A felicidade verdadeira se constrói quando fazemos o outro feliz; quando amamos. Ela é o prêmio da virtude. E a virtude que gera o verdadeiro amor é a renúncia a si mesmo. Quando você agarra um objeto ou uma pessoa só para você, o amor morre em suas mãos; pois o apego é o oposto do amor. Você precisa ter a coragem de examinar a autenticidade do seu amor. Quando quisermos saber se estamos amando de fato, façamos então estas perguntas a nós mesmos: estou me renunciando? Estou esquecendo-me? Estou dando-me? Se a resposta for afirmativa, esteja certo da presença do amor em sua vida. Muito mais do que dar coisas, presentes, abraços, beijos, amar é dar de si mesmo, integralmente, desinteressadamente. Você precisa desenvolver bem os seus talentos exatamente para que possa dá-los aos outros e servi-los melhor. Quando amamos de verdade, nos tornamos livres de fato, pois o amor nos liberta de nós mesmos e das coisas que nos amarram. O seu egoísmo é o seu tirano! É claro que amar não é fácil. É fácil viver as caricaturas do amor, mas o autêntico amor é exigente. A autenticidade do amor se verifica pela cruz.

Todo amor verdadeiro traz o sinal do sacrifício. E é através desse sinal que você identifica o verdadeiro amor e o falso. Não há amor sem renúncia. Depois que o pecado entrou em nossa história, amar tornou-se uma “imolação a si mesmo”, uma verdadeira crucificação própria. Mas os seus frutos são doces. Não foi isto que Jesus nos ensinou? Ele veio a nós para ensinar o amor. A sua lição foi esta: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Ele se apresentou como o “modelo” do verdadeiro amor. Não apenas Ele mandou amar, mas amar “como Eu vos amo”. E como Ele nos amou? Até à cruz! Antes de abraçá-la, Ele disse aos discípulos: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,12). Esta é a definição divina do amor: “dar a vida”. Isto não quer dizer que para você amar alguém, terá que morrer na cruz por ele, ou morrer de alguma outra forma. Isto significa que você deva “dar a sua vida” pelo outro, até a morte, isto é, o seu tempo, o seu dinheiro, a sua presença, etc. ..., e tudo isto desinteressadamente. Se houver uma “segunda intenção” em nosso amor por alguém, ele deixa imediatamente de ser puro, e morre. A grandeza do amor é a sua gratuidade. No “hino ao amor” (1Cor 13), São Paulo ensina que o “amor não busca o seu próprio interesse”. Este é o verdadeiro amor que sustenta o casamento e a família. O resto é caricatura do amor, miragens falsas e perigosas. Nada mais perigoso do que colocar o amor falsificado na base do casamento, pois ele não sustentará o lar. Todas as grandes obras realizadas neste mundo foram projetos de um amor verdadeiro.


Quando se planta amor, se colhe amor, ensinava São João da Cruz. Muitas vezes você pode ter reclamado de que não recebeu amor, mas será que você semeou amor ali naquele lugar? Se você amar gratuitamente, receberá tudo de volta. Se nos apegarmos ciosamente a nós mesmos e às criaturas, acabaremos perdendo tudo. O mesmo São João da Cruz ensina a “dar tudo pelo Tudo”. Quando aceitamos dar tudo, e não reter nada, o próprio Deus se dará a nós. Se você quiser experimentar a verdadeira felicidade, terá então que dar esse passo difícil, de correr o risco, da renúncia no vazio da noite, da caminhada em direção à morte do ego. E tudo isto dará a você a vida. É difícil se desvencilhar dos amores falsos, porque eles são “lucrativos” , trazem o prazer momentâneo e a satisfação para o ego, mas tudo isto passa rápido, e acaba deixando gosto de morte. Somos enganados e seduzidos pelos amores falsos exatamente pela recompensa imediata que eles nos oferecem. Mas é preciso que você saiba que as suas recompensas são efêmeras e se dissipam como bolhas de sabão. Quanto mais você souber dar-se mais saberá amar. E quanto mais você amar, mais feliz será.

Quando você se dá a alguém, total e gratuitamente, esta pessoa o enriquece, pois o amor faz crescer aquele que ama. Quando você ama alguém de verdade, descobre os tesouros desta pessoa e se enriquece com os talentos dela. E isto vai até o infinito... Alguém já disse que “o mundo pode ser salvo pela vitória do amor”. Mas este amor precisa ser autêntico, gratuito e desinteressado, porque o amor falso, as suas miragens (egoísmo, amor-próprio) só geram a tristeza, a decepção, o envelhecimento e o fracasso. Quando você ama de verdade, não só se abre para outro, mas se abre para Deus, pois “Deus é amor”. “Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito” (1Jo 7,12). “Aquele que não ama não conhece a Deus porque Deus é amor” (1Jo 4,8). Para que o seu namoro seja rico é preciso basear-se neste amor que é doação de si mesmo para construir o outro. Se não houver amor, não haverá crescimento mútuo, e será tempo perdido. O seu namoro só terá sentido se for um aprendizado do autêntico amor. O amor tem muitas faces: a compreensão, a aceitação do outro, o perdão, a busca da verdade, a paciência, a sinceridade, a fidelidade, a bondade, o perdão, e tudo que faz o outro crescer.

Fonte:Blog Donzela Cristã

Testemunho Crystalina Evert

Deixando um homem ser um homem

Deixando um homem ser um homem
(Retirado do Blog Vida e Castidade)

Esse é um excelente post de Anthony Buono (de 29 de abril 2009), um dos escritores do canal Teologia do Corpo de Catholic Exchange (http://tob.catholicexchange.com). Ele revela as diferenças entre homem e mulher com relação à amizade conjugal.


Amizade com homens

As mulheres possuem uma habilidade maior para fazerem amizades e para serem amigas. Pode-se dizer, falando melhor, que elas, por natureza, são inclinadas ao cuidar. As mulheres cuidam, especificamente, de pessoas. Elas são capazes, intuitivamente, de entrar na realidade interior dos seres humanos. E isso as torna mais capazes de ser e ter amigos.

Não é surpresa para ninguém que a mulher faz amizade com outras mulheres com muita facilidade. Elas mostram interesse uma nas outras. Elas gostam de trocar informações pessoais. Perseguem com sinceridade o conhecimento da outra pessoa para além da apresentação externa.

Os homens, por outro lado, são primariamente interessados no mundo exterior. Por natureza, os homens focam mais no “que” ao invés do “quem” na vida. É claro, eu não estou dizendo que os homens não possuem habilidade de “cuidar”. Estou apenas ressaltando que as mulheres têm mais facilidade do que os homens na amizade. Os homens se conhecem uns aos outros mais pelas ações do que pela conversa. Eles não se sentam e ficam trocando idéias sobre o que sentem por dentro, ou seus gostos e desgostos. Eles apenas agem, e falam dentro de situações, e o conhecimento sobre o homem se revela durante o processo. É por isso que os homens são muito mais transparentes que as mulheres. Você consegue saber o que um homem está pensando ou o que ele quer, porque ele se externaliza. As mulheres mantêm as coisas no interior e dificilmente se pode perceber o que sentem a partir do exterior.

Por que é tão importante considerar isso? Porque em namoros e no casamento pode haver uma preocupação excessiva por parte das mulheres, por elas desejarem que o homem seja o “melhor amigo” em um nível tal que é provavelmente fora da realidade. Sou totalmente a favor da amizade no namoro e no casamento, mas a amizade necessária para o casamento precisa ser definida e compreendida. Não pode ser entendida como se a mulher fosse conseguir uma pessoa com quem pudesse conversar todo tempo que quisesse, e sobre qualquer coisa.

Para conhecer qualquer pessoa de verdade, inevitavelmente terá que haver conversação falada. A razão é que nunca se pode conhecer “realmente” o que uma pessoa está falando ou experimentando no nível pessoal, ou porque fez algo, enquanto a pessoa não falar. As ações podem sim revelar verdades sobre a pessoa, mas as ações sozinhas não bastam para trazer todas as informações sobre a pessoa inteira. Então, os homens têm que falar e ser capazes de manter conversas com as mulheres. Eles não podem simplesmente ser muito tímidos e não falarem nada.

Por definição, uma pessoa é um ser que age. Então, o que uma pessoa faz transmite muito do que ela é. Entretanto, como seres humanos, temos uma natureza humana decaída, que nos inclina ao pecado. E, de fato, pecamos todos os dias. Agora, os nossos atos pecaminosos devem definir quem somos como pessoas? Seria injusto se fosse assim, porque todos têm a liberdade, caso se abandone a graça, de ser perdoados e de ter uma nova chance. A maneira com que se recupera dessas quedas diz muito mais sobre a pessoa. Obviamente, alguém que continue fazendo as mesmas coisas repetidamente provavelmente não vai parar de fazê-las. Portanto, as ações devem ser julgadas periodicamente, ao invés de apenas em momentos.

Essa é a cortesia que os homens precisam desesperadamente receber das mulheres hoje em dia, porque os homens são mais orientados para a ação do que as mulheres. Portanto, os homens estão mais propensos a fazer coisas estúpidas do que as mulheres. Os homens precisam de uma paciência extra das mulheres, se forem tentar atingir o nível de amizade que as mulheres desejam.

As mulheres têm que entender, entretanto, que os homens, tipicamente, não “precisam” do tipo de amizade profunda que as mulheres desejam. É por isso que é importante para as mulheres ter amigas mulheres próximas. Há necessidades que as mulheres têm, a nível de amizade, que não se pode esperar que seja preenchida por um homem. Eu compreendo que há um ideal no casamento moderno que o homem e a mulher sejam algo como “melhores amigos”, mas isso não deve nos distrair dos aspectos práticos da vocação matrimonial aos olhos de Deus. Os dois se tornam uma só carne, mas não uma só pessoa. Sempre haverá dois indivíduos únicos no casamento, o que significa que a pessoalidade de ambos sempre vai estar se desenvolvendo e se formando. A ligação de amizade no matrimônio traz amor, segurança, sacrifício, e interesse no bem do outro. Nessa amizade só se cresce juntos.

Mas é impossível a um homem preencher completamente uma mulher, assim como é impossível a um mulher preencher completamente um homem. Acima de tudo, só Deus pode preencher completamente uma pessoa. Isso é dado. Mas também, as pessoas precisam de outras pessoas para fazê-las sempre continuar sendo pessoas inteiras. Alguns casais têm grandes problemas em lidar com o que o outro faz fora da relação dos dois. Há uma possessividade que faz as pessoas acharem horrível quando o(a) namorado(a) ou cônjuge faz algo sem elas ou não falam para elas tudo que esperam ouvir. Essas pessoas que são assim se sentem traídas, pois acreditam que o verdadeiro amor significa fazer toda e qualquer coisa sempre junto, e só compartilhar as coisas com aquela única pessoa. E não gostam também se uma coisa que falaram entre si é compartilhada com qualquer outra pessoa.

A amizade no casamento não é isso. A amizade não significa possuir cada pequeno pedaço de informação sobre o outro, nem fazer todas as coisas juntos, caso contrário o amor não seria verdadeiro ou real. Há casais que realmente parecem ser assim. Porém, casais muitos bons terminaram seus relacionamentos por não serem assim. E isso é errado. As mulheres vão ter dificuldades em encontrar um homem que deseje contar tudo e queira fazer tudo com elas. Alguns homens podem gostar de ser assim, mas não a maioria. Os homens definitivamente têm que se abrir mais para as mulheres, mas as mulheres definitivamente precisam de uma amiga para ter com quem abrir o coração, e falar sobre tudo. Tipicamente as mulheres encontram isso em uma outra mulher. É por isso que, quando cada cônjuge tem seus amigos (a mulher amigas mulheres; o homem amigos homens) nesse caso há muitos casamentos felizes. Essas amizades fora do casal dão força para a pessoa e os fazem ser melhores cônjuges um para o outro.

As mulheres não deveriam cobrar demais dos homens no sentido de ser os amigos que precisam para conversar. Mas os homens precisam, sim, falar mais com as mulheres. As mulheres precisam de conversa. Elas precisam saber o que está se passando por dentro. Muitas vezes o homem sequer sabe muito bem o que se passa em seu interior para compartilhar com alguém. As mulheres precisam ter paciência com isso.

Não desista de um homem que define sua pessoa pelas próprias ações. Só porque ele não fala tanto quanto você deseja não quer dizer que ele não vai ser um bom esposo e bom pai. Assegure-se de ter amigos(as) que fazem de você uma pessoa melhor, e então pegue essa melhoria e traga para o namoro ou a amizade conjugal.
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Traduzido de: Blog True Sexual Revolution
Link: http://truesexualrevolution.blogspot.com/2009/05/letting-man-be-man-this-is-excellent.html

Amor e Responsabilidade: sobre a razão e a sentimentalidade

domingo, 25 de março de 2012

Por Edward P. Sri

Como o "Sr. Certinho" acabou se tornando tão errado? Muitos jovens tiveram a experiência de “sentir” que estavam apaixonados por alguém que, à primeira vista, parecia absolutamente maravilhoso(a), tudo isso só para ficar muito desapontado(a) com a pessoa, desiludido(a) com o relacionamento, e talvez até descrente no sexo oposto como um todo.
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Em seu livro “Amor e Responsabilidade”, João Paulo II – então Karol Wojtyla – explica porque isso acontece com tanta frequência a homens e mulheres, e como podemos evitar essas desilusões no futuro.

Mais do que o físico

No último artigo vimos um poderoso aspecto da atração entre homem e mulher: a sensualidade. E vimos como essa atração física a maioria das vezes se caracteriza por um desejo de usufruir do corpo da outra pessoa como um objeto de prazer.

Há um segundo tipo de atração, entretanto, que vai além do desejo sexual pelo corpo, e que Wojtyla chama de “sentimentalidade”. Ela representa mais do que uma atração emocional entre os sexos.

Por exemplo, quando um rapaz conhece uma garota, além de notar sua beleza, ele também pode ficar bastante atraído pela sua feminilidade, sua personalidade acolhedora, sua graciosidade – ou, como Wojtyla chama, seu “charme” feminino. Do mesmo modo, quando a garota encontra um rapaz, ela pode não apenas reconhecer que ele é bonito, mas também descobrir em si mesma fortes sentimentos e admiração por sua masculinidade, suas virtudes, o modo como ele se porta – ou, como Wojtila chama, sua “força” masculina.

Tais reações emocionais para com pessoas do outro sexo acontecem o tempo todo. Elas podem evoluir gradativamente entre um homem e uma mulher, ou podem acontecer desde o primeiro instante em que se encontram. Podemos experimentar sentimentos afetuosos pelo cônjuge, um colega de trabalho, ou um amigo(a) de longa data. Ou podemos experimentá-los por uma pessoa que conhecemos em uma reunião, um estranho que vemos no shopping, ou mesmo um personagem fictício que vemos na TV.


A sentimentalidade pode ser parte do que leva ao amor autêntico. Mas, se não tomarmos cuidado, podemos facilmente ficar escravos de nossas emoções de maneiras tais que nos impede de sermos verdadeiramente capazes de amar outras pessoas.

Um navio afundando

O amor deve integrar nossas emoções. Em sua forma plena, o amor não deve ser uma decisão fria e calculada, isenta de sentimentos. Um esposo que diz: “Querida, eu te amo. Eu não tenho sentimentos de modo algum por você, mas saiba que lhe sou fiel”, não é a situação ideal. Nossas emoções devem ser incluídas no compromisso que firmamos para com a pessoa amada, enriquecendo o relacionamento e nos dando uma experiência ainda mais profunda de união com a outra pessoa. Como explica Wojtyla, “O amor sentimental mantém duas pessoas juntas, as faz ficar – mesmo quando estão fisicamente distantes – se movendo ‘na órbita’ um do outro... Uma pessoa nesse estado de espírito permanece mentalmente sempre perto da pessoa com quem ele ou ela tem laços de afeição” (Amor e Responsabilidade).

Entretanto, Wojtila se preocupa com o fato de que muitas pessoas hoje em dia pensam no amor apenas em termos de sentimentos. Suas preocupações parecem totalmente aplicáveis à uma cultura como a nossa, na qual canções de amor, filmes de romance e programas de TV estão constantemente apelando para nossas emoções, e nos fazendo desejar relacionamentos de rápido e emocionante envolvimento sentimental, como aquele envolvimento que Tom Hanks e Meg Ryan parecem ter nos filmes.

O verdadeiro amor, entretanto, é muito diferente do “amor de Hollywood”. O verdadeiro amor requer muito esforço. É uma virtude que envolve sacrifício, responsabilidade, e um total compromisso com a outra pessoa. O “amor de Hollywood” é uma emoção. É algo que apenas acontece com você. O foco não está em um compromisso com a outra pessoa, mas no que acontece dentro de você – os poderosos sentimentos agradáveis que você experimenta quando está com essa outra pessoa.

O fenômeno do filme “Titanic”, no final dos anos 90, mostra quantas pessoas se deixam levar pela ilusão do “amor de Hollywood”. Milhões de jovens retornavam várias vezes ao cinema para experimentar o romance emocionalmente intenso entre dois personagens do filme – um romance que se desenvolve entre duas pessoas que não se conhecem realmente, e que não possuem verdadeiro compromisso uma com a outra, mas que ainda assim era visto pelos espectadores como o tipo de amor ideal que duraria uma vida toda. Com esse tipo de modelo a imitar, não é de se surpreender que tantos de nossos relacionamentos na vida real terminem em um barco furado.

Claro que nossos sentimentos podem e devem ser incorporados em um amor plenamente desenvolvido (um tema que desenvolveremos em artigos posteriores). Entretanto, quando somos levados pela emoção acabamos evitando uma questão muito importante que é crucial para a estabilidade a longo prazo de um relacionamento: a questão da verdade. Devemos primeiramente e acima de tudo considerar a verdade sobre a outra pessoa, e a verdade sobre a qualidade do relacionamento com ele ou ela.

Evitando a questão da verdade

Um perigo de fazer dos sentimentos uma medida do nosso amor é que nossos sentimentos podem ser muito enganadores. Na verdade, Wojtyla diz que os sentimentos, em si, são “cegos”, pois não estão preocupados em saber a verdade sobre a outra pessoa. Portanto, nossos sentimentos sozinhos não são uma boa referência para guiar nossos relacionamentos.

Ele explica que descobrimos a verdade através do uso da nossa razão. Eu sei que 2 + 2 = 4 não porque eu sinta que é igual a 4. Eu chego à certeza dessa verdade através da minha razão. Nossos sentimentos, por outro lado. Não têm como tarefa a busca da verdade, diz Wojtyla.

Portanto, nossos sentimentos não serão de muita ajuda como guia para ver a verdade honesta sobre a outra pessoa e a verdade sobre o relacionamento. “Os sentimentos nascem espontaneamente – a atração que uma pessoa sente por outra geralmente começa de repente e de forma inesperada – mas essa reação é um efeito ‘cego’” (Amor e Responsabilidade).

Isso se torna especialmente claro quando consideramos o que aconteceu com nossas emoções depois do pecado original. Antes de o pecado entrar no mundo, o intelecto do homem facilmente direcionava sua vontade para escolher o que é bom e guiar suas emoções de modo que suas paixões fossem direcionadas para aquele bem.

Depois da queda do pecado original, entretanto, o intelecto parece não enxergar a verdade claramente, a vontade está enfraquecida em sua resolução de buscar o que é bom, e nossas emoções já não estão corretamente ordenadas, ficam a vagar em várias direções. Portanto, agora experimentamos muita instabilidade na esfera emocional e muitos altos e baixos caóticos (amor-ódio, esperança-medo, alegria-tristeza etc.) em nossas vidas. Ainda assim, ironicamente, a visão moderna de amor nos diz para procurar precisamente nossos “sentimentos” – para olhar justo no meio dessa montanha-russa emocional – a fim de encontrar uma medida infalível de nosso amor. Não é de espantar que haja tanta confusão e instabilidade em nossos relacionamentos hoje em dia!

É realmente isso mesmo?

Além do mais, não apenas os sentimentos não possuem a tarefa de procurar a verdade, mas também os sentimentos podem ser tão fortes que turvam nossa maneira de ver a outra pessoa. Wojtyla explica que quando somos levados pelas nossos emoções, a sentimentalidade pode diminuir nossa habilidade de conhecer aquela pessoa como ele ou ela realmente é.

É por isso que Wojtyla afirma que, em qualquer atração e envolvimento emocional, a questão da verdade sobre a pessoa é crucial: “É realmente isso mesmo?”. Devemos nos perguntar: “Ele ou ela tem mesmo essas qualidade e virtudes pelas quais estou tão atraído?”. “Ele ou ela é realmente digno(a) de minha confiança?”. “Há algum problema em nosso relacionamento que eu esteja negligenciando?”.

Nosso sentimentos não lidam com essas importantes questões. Na verdade, nossos sentimentos geralmente nos levam a evitar essas questões, deixando-nos com uma percepção distorcida e exagerada da pessoa.

“É por isso que em qualquer atração... a questão da verdade sobre a pessoa pela qual se sente atraído é tão importante. Devemos levar em consideração a tendência, produzida por toda uma dinâmica da vida emocional, da pessoa evitar a questão ‘é realmente isso mesmo?’. Nessas circunstâncias a pessoa não se pergunta se a outra pessoa realmente possui os valores que – aos olhos da sua paixão – ela parece ter, mas principalmente não se pergunta se o sentimento que acabou de surgir é uma emoção verdadeira” (Amor e Responsabilidade).

Isso, repito, não quer dizer que os sentimentos sejam ruins. Mas eles não podem ser o primeiro critério para discernir a verdade honesta sobre outra pessoa ou para avaliar claramente um relacionamento.

Fora de proporções

Essa tendência de ser levado pelas emoções e de evitar questões sobre a verdade é característico do amor sentimental. Temos a tendência de exagerar o valor da pessoa pela qual nutrimos sentimentos, diminuir o peso de suas faltas, e ignorar problemas que existem no relacionamento.

Aqui Wojtyla faz uma afirmação incrível sobre o quanto nossos sentimentos podem controlar nossa percepção da outra pessoa pela qual estamos tão atraídos. “Aos olhos de uma pessoa sentimentalmente atraída por outra, o valor da pessoa amada... cresce enormemente – via de regra fora de qualquer proporção com relação ao seu real valor” (Amor e Responsabilidade).

Você entendeu? Wojtyla não disse que nos estágios iniciais do amor sentimental nós “às vezes” exageramos o valor da pessoa. Ele disse que isso acontece via de regra – nós fazemos isso o tempo todo! E ele não disse que temos a tendência de exagerar o valor da pessoa só um pouquinho. Nós tendemos a idealizar o valor da pessoa “fora de qualquer proporção” em relação a quem ele ou ela é na realidade.

Portanto, devemos entrar nos relacionamentos com nossos olhos bem abertos. Se nós ingenuamente dizemos que não idealizamos a outra pessoa de modo algum, isso provavelmente é um sinal de que já fomos muito longe da realidade. Nesses estágios iniciais do amor, se somos muito rápidos para notar três ou quatro qualidades na pessoa amada, devemos ser igualmente rápidos em admitir que provavelmente estamos caindo na tendência de exagerar essas qualidades. Como explica Wojtila, “Uma variedade de valores são atribuídos à pessoa amada, as quais ele ou ela não possui na realidade. Esses são valores ideais, não reais” (Amor e Responsabilidade).

Por que temos a tendência de idealizar aqueles por quem nos sentimos atraídos? Esses “valores ideais” são aqueles que desejamos, com todo nosso coração, encontrar em outra pessoa um dia. Eles existem em nossos desejos, aspirações e sonhos mais profundos. Quando finalmente encontramos alguém com quem se tem o menor grau de sintonia, nossas emoções rapidamente tendem a evocar esses valores ideais e projetá-los sobre a pessoa.

Usando as pessoas emocionalmente

Quando falamos de um homem usando uma mulher tendemos a pensar em termos de ele usando ela para seu prazer sexual. Entretanto, Wojtyla chama a atenção que homem e mulher podem usar um ao outro também para um prazer emocional. Um devoto homem cristão, ou mulher cristã, pode ter um namoro completamente casto, mas ainda assim estar usando a outra pessoa por causa dos “sentimentos legais” que experimenta quando estão juntos, pela segurança emocional de ter um(a) namorado(a), ou pelo prazer que deriva de imaginar o dia do casamento com essa pessoa e esperar que ele ou ela seja finalmente a pessoa certa.

Se eu caio em tal idealização sentimental, a pessoa amada não é de fato a recebedora de minhas afeições. Ao invés, a outra pessoa é mais uma oportunidade para mim de usufruir dessas poderosas reações emocionais que tomam meu coração. Nesse caso, não amo realmente a outra pessoa por ela mesma, mas acabo usando-a pelo prazer emocional que obtenho de estar com ela. Como explica Wojtyla, o(a) amado(a) que é idealizado(a) “se torna meramente uma ocasião para uma descarga, na consciência emocional da pessoa, dos valores que ele ou ela deseja com todo seu coração encontrar na outra pessoa” (Amor e Responsabilidade).

Desilusão

Talvez o efeito mais trágico da idealização sentimental é que nós terminamos sem sequer conhecer a pessoa pela qual nos sentimos tão atraídos. Por exemplo, um homem vivendo um amor sentimental pode procurar estar perto da amada, passar muito tempo com ela, conversar com ela, e até mesmo ir para a Missa com ela, e rezar por ela. Entretanto, se ele a idealizou, ele permanece bem distante dela – pois a poderosa afeição que ele sente por ela não depende de seu real valor, mas apenas dos “valores ideais” que ele projetou nela.

Inevitavelmente, essa sentimentalidade, quando não corrigida, resulta em grande desilusão. Pois quando a pessoa real não consegue corresponder ao ideal, os fortes sentimentos começarão a diminuir, e já não haverá muita coisa para segurar o relacionamento. O amante estará bem desapontado com a amada. Portanto, muito embora o casal possa dar toda aparência de estar emocionalmente em sintonia, eles permanecem de fato bastante divididos um do outro. Eles podem até nem se conhecer de verdade, e podem estar até mesmo usando um ao outro pelo prazer emocional que obtém dessa idealização.
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O Autor: Edward Sri é professor assistente de Teologia do Benedictine College em Atchinson, Kansas, Estados Unidos, e autor de vários livros de Teologia e espiritualidade.
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Traduzido de: http://catholiceducation.org/articles/parenting/pa0111.html

Fonte:http://vidaecastidade.blogspot.com.br/

Tem como saber se estou amando de verdade?




Jason Evert

Nunca se pode avaliar uma relação pela intensidade dos sentimentos, porque eles vão e vêm, sobem e baixam.

Sentir-se apaixonado é emocionante, mas nunca se deve confundir a emoção com o amor. Por exemplo, um rapaz pode ter sentimentos verdadeiros por uma garota, mas isso não garante que ele a ame. A verdadeira medida do amor é fazer o bem à pessoa amada. Claro, isso não é fácil. Por isso o amor verdadeiro é algo escasso, e isso o faz mais belo e valioso.

O contrário de amar é usar. Por exemplo, os rapazes frequentemente usam as garotas para sua satisfação física, e as garotas usam os rapazes para sua satisfação social ou emocional. Mas nunca estão satisfeitos.

Tenho falado com milhares de alunas de colégio e de universidade e nunca encontrei uma garota sequer quer quisesse ter uma série de relações físicas. Mas encontrei, sim, um número incontável de mulheres que buscam o amor fazendo isso. Talvez estejam confundindo a atração física com o amor, ou buscam confirmar seu próprio valor, coisa que seus pais nunca lhes demonstraram. De qualquer maneira, essas garotas não encontraram o que buscavam.

Da mesma maneira, encontrei-me com “sedutores” que dizem que desejam saber como é amar a uma mulher em vez de usá-la ou de fazer-lhe mal. Não era sua intenção ferir as garotas, mas ninguém lhes ensinou como tratar as mulheres com reverência. Insatisfeitos com uma vida de “ficas” e sexo casual, no longo prazo se deram conta de que o conquistar uma mulher sexualmente era perder a razão pela qual são homens. Unicamente na entrega de si mesmos em um amor autêntico podiam se encontrar.

Se você vive uma vida sexual ativa e está tratando de descobrir se realmente é amor, faça a prova do amor. Retire a parte sexual de sua relação e viva a virtude da castidade. Quando passa a paixão sexual, se pode ver se havia amor desde o princípio, se lhe amam como pessoa. Não tenha medo de fazer isso, porque somente quando o amor é colocado à prova é que se pode ver seu verdadeiro valor. (1)
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(1)Karol Wojtila, Amor e Responsabilidade (San Francisco, Ignatius Press, 1993), p. 134.

Trecho do livro “Amor Puro”, de Jason Evert. San Diego: Catholic Answers, 2007.

Amor e Responsabilidade: entendendo corretamente as bases da amizade

domingo, 18 de março de 2012

  
Por Edward P. Sri (baseado em seu livro "Men, Women and the Mystery of Love")

   O que um padre celibatário pode nos ensinar sobre amor, sexualidade, e relacionamentos entre homem e mulher?

      Essa é a pergunta que um padre polonês, Karol Wojtyla, se fez na introdução de seu livro revolucionário, "Amor e Responsabilidade". Publicado em 1960, esse livro sobre a ética sexual foi fruto do extenso trabalho pastoral do Pe. Wojtyla com jovens, e das reflexões filosóficas que fez sobre esse tema quando ainda servia como sacerdote e professor universitário em Cracóvia - muito antes do mundo conhecê-lo como João Paulo II.

      No livro "Amor e Responsabilidade", o Pe. Wojtyla argumenta que, apesar de faltar ao sacerdote a experiência direta do casamento e da sexualidade, ainda assim existe algo que lhe confere uma perspectiva ainda mais ampla nesses assuntos: uma vasta "experiência secundária". Como conselheiro espiritual que trabalhava bem próximo a muitos jovens adultos e jovens casais em meio a suas batalhas no campo do amor e da sexualidade, Pe. Wojtyla pôde aprender com a experiência de lidar com um variado espectro de personalidades, relacionamentos e casamentos, de um modo tal que não seria possível a um homem leigo. "Amor e Responsabilidade" foi o fruto dessa rica experiência pastoral, bem como de suas próprias reflexões filosóficas e teológicas sobre o amor, o sexo e o matrimônio.

Um grande livro

      Janet Smith, dos Estados Unidos, uma das grandes palestrantes de ética sexual, afirma que "Amor e Responsabilidade" não é apenas um livro importante. Ela diz que esse livro deveria ser reconhecido como uma das maiores obras da civilização ocidental. Segundo ela, deveríamos colocar "Amor e Responsabilidade" junto com a "Ilíada" de Homero, a "Divina Comédia" de Dante, as "Confissões" de Santo Agostinho, na lista dos grandes livros do mundo, pelos séculos que virão. Ela diz: "Eu acredito que o livro do Papa João Paulo II deve figurar nessa lista por achar que as gerações futuras irão ler esse livro - elas certamente o devem fazer, pois se o fizerem verão que o livro enfrenta com firmeza questões que todo temos sobre a vida, além de oferecer uma maneira de ver as relações humanas que, se aceita, pode alterar radicalmente a maneira com a qual conduzimos nossas vidas". (1)

      De fato, "Amor e Responsabilidade" fornece insights sobre o relaiconamento homem-mulher que realmente são capazes de mudar vidas - e são desesperadamente necessários hoje em dia. A nova geração, crescida no período pós-revolução sexual, está sedenta por qualquer direcionamento que a ajude a conduzir seus relacionamentos com o sexo oposto. Solteiros, noivos e jovens casais encontrarão em "Amor e Responsabilidade" não apenas uma perspectiva diferente de tudo que o mundo tende a oferecer, mas uma visão que, uma vez encontrada, certamente terá um impacto positivo na maneira com que nos relacionamos com os outros.

Nesta curta série de artigos, meus objetivos são modestos. Não pretendo oferecer uma análise acadêmica desse livro, nem entrar em debates eruditos sobre ética sexual. Pretendo, apenas, tornar mais acessíveis aos leitores leigos alguns dos insights dessa desafiante obra filosófica, e oferecer algumas de minhas próprias reflexões durante esse caminho, com a esperança de que os leitores possam se beneficiar da visão que o Papa João Paulo II tem sobre o amor e a sexualidade, e para que possam encontrar aplicações em suas próprias vidas.

O princípio personalista

      O primeiro grande objetivo do Papa João Paulo II no livro “Amor e Responsabilidade” é explicar o que ele chama de “princípio personalista”. De acordo com esse princípio fundamental para as relações humanas, “uma pessoa não deve ser para a outra pessoa apenas um meio para atingir um fim”. Em outras palavras, nunca devemos tratar as pessoas como meros instrumentos para atingir nossos próprios objetivos.

      João Paulo II explica porque deve ser assim. As pessoas humanas são capazes de autodeterminação. Ao contrário dos animais, que agem de acordo com seus instintos e apetites, os seres humanos podem agir deliberadamente. Através da autorreflexão, as pessoas podem escolher um curso de ação para si mesmas, e impor seu “mundo interior” para o mundo exterior através de suas escolhas. Tratar uma pessoa humana como mero instrumento para meus próprios objetivos é violar a dignidade da pessoa como ser que pode se autodeterminar. “Toda pessoa é, por natureza, capaz de determinar seus próprios fins. Qualquer um que trate uma pessoa como um meio para um fim violenta a própria essência do outro” (trecho do livro Amor e Responsabilidade).

Amar ou usar?

      O que torna difícil viver na prática esse princípio básico das relações humanas é o espírito de utilitarianismo que permeia nossa sociedade Na visão utilitarista, as melhores ações humanas são aquelas que são mais úteis. E útil é aquilo que maximiza meu prazer e conforto e minimiza minha dor. A pressuposição que está por trás desse pensamento é que a felicidade consiste no prazer. Portanto, eu deveria sempre, segundo essa visão, perseguir tudo que me desse conforto, vantagem e benefício, e deveria evitar tudo que causasse sofrimento, desvantagem e perda.

      Essa visão utilitarista afeta a maneira com que nos relacionamos com o outro. Se meu objetivo principal é perseguir meu próprio prazer, então eu faço as escolhas na minha vida com base em quanto elas me levarão a esse objetivo. Disso resuta que muitas pessoas hoje em dia – até mesmo bons cristãos – podem avaliar um relacionamento em termos de quão útil uma pessoa é para que eu atinja esse objetivo, ou quanta “diversão” eu tenho com essa pessoa. O Papa João Paulo II diz que, uma vez adotada essa atitude utilitária, começamos a reduzir as pessoas em nossas vidas a simples objetos que usamos para nosso próprio prazer.

      Isso ajuda a explicar porque muitas amizades e “namoros” (e até mesmo casamentos) hoje em dia são tão frágeis e tão facilmente se dissolvem. Se eu avalio uma mulher com base apenas no que ela pode me trazer de “vantagem”, ou apenas com base no quanto eu posso obter de prazer estando com ela, então esse relacionamento não tem fundamentos sólidos. Assim que eu deixar de experimentar prazer ou benefício do tempo que passo com ela – ou assim que eu encontre outra pessoa que me dê mais prazer ou benefício –, ela passa a não valer mais nada para mim. Essa visão é muito distante do princípio personalista, e mais distante ainda de um relacionamento baseado no amor compromissado.

Amor e amizade

      Aqui, pode ser útil mencionar os diferentes tipos de amizade, de acordo com Aristóteles, a quem o Papa João Paulo II cita na sua discussão sobre o amor.

      Para Aristóteles, há três tipos de amizade, baseados em três tipos de afeição que unem as pessoas. Primeiramente, em uma amizade “por utilidade”, a afeição está baseada no benefício ou uso que os amigos extraem do relacionamento. Cada pessoa ganha alguma coisa com a amizade que serve a seu benefício, e o benefício mútuo da relação é o que une as duas pessoas.

     Por exemplo, muitas amizades no ambiente de trabalho estão nessa categoria. Digamos que Bob possui uma empresa de construção civil em Boston. Ele tem uma amizade com Sam em São Francisco porque Sam vende pelo melhor preço o tipo de parafuso que Bob precisa. Para realizarem seus negócios Bob e Sam se encontram algumas vezes no ano, falam no telefone mais ou menos uma vez por semana, e trocam e-mails com certa frequência. Ao longo dos anos fazendo negócios, os dois aprenderam sobre a carreira, a família e os interesses do outro. Eles se dão bem, e sinceramente desejam tudo de bom na vida da outra pessoa. Eles são amigos, mas o que os une é o benefício particular que ganham com a amizade: parafusos para Bob e vendas para Sam.

      Em segundo lugar, em uma amizade “por satisfação” a base da afeição é o prazer que se tira do relacionamento. Vê-se o amigo como a causa de algum prazer ou satisfação para si. Essa amizade busca sobretudo ter “diversão” com a outra pessoa. Os amigos podem escutar o mesmo tipo de música, praticar o mesmo esporte, gostar do mesmo tipo de atividade física, viver no mesmo dormitório, ou gostar de sair para as mesmas baladas. As duas pessoas podem se importar sinceramente com o outro, e desejar para o outro tudo de bom na vida, mas o que os une como amigos é primariamente o prazer ou a “diversão” que vivenciam juntos.

Fundamentos frágeis

      Aristóteles nota que os tipos de amizade “por utilidade” e “por satisfação” são formas básicas de amizade, e não representam a amizade no sentido mais pleno. Amizades “por utilidade” e “por satisfação” não são necessariamente ruins, porém são as mais frágeis. Têm menos probabilidade de sobreviver ao teste do tempo, porque quando não existem mais os mútuos benefícios ou a “diversão” já não resta mais nada a unir as duas pessoas. Por exemplo, se Sam deixasse de vender parafusos, e passasse a vender livros, o que aconteceria com sua amizade com Bob, já que ele não venderia mais os parafusos que Bob precisa? Eles poderiam até trocar cartões de Natal, e e-mails de vez em quando, mas a amizade começaria a se dissolver, pois eles não precisariam mais se comunicar regularmente para tratar de negócios. A relação não é mais mutuamente benéfica.

      De modo similar, na amizade “por satisfação”, quando os interesses de uma pessoa mudam, ou quando alguém se muda e não está mais por perto para compartilhar os momentos “de diversão”, provavelmente a amizade se esvanece. Isso ajuda a explicar porque a amizade entre os jovens muda com tanta rapidez. No processo de mudança do colégio para a faculdade e depois para o mundo profissional eles amadurecem, e seus interesses, valores, convicções morais e localizações geográficas tendem a sofrer muitas mudanças. Se suas amizades nesse período de transição não está baseado em algo mais profundo do que o simples fato de viverem no mesmo dormitório, praticar o mesmo esporte, e se divertirem juntos, as amizades provavelmente se dissolverão com o tempo.

      Essas amizades baseadas em momentos de “diversão” juntos tendem a não continuarem depois que as experiências agradáveis não se encontram mais ali para serem compartilhadas.

Amizade virtuosa

      Para Aristóteles, a terceira forma de amizade é a amizade no sentido pleno. Pode ser chamada amizade virtuosa porque os dois amigos estão unidos não por interesses próprios, mas por interesse em um objetivo comum: a “vida virtuosa”, a vida moral que se encontra na virtude.

      O problema das amizades por prazer ou utilidade é que a ênfase está no que eu obtenho com ela. Entretanto, na amizade virtuosa, os dois amigos estão comprometidos em alcançar algo fora de si mesmos, algo que vai além de seus interesses pessoais. E esse bem maior é o que os une na amizade. Lutando lado a lado pela vida virtuosa, e encorajando um ao outro na vivência das virtudes, o amigo verdadeiro não se preocupa com o que vai obter do relacionamento, mas com o que é melhor para seu amigo e se preocupa em alcançar a vida virtuosa com seu amigo.

O que faz iniciar ou terminar um relacionamento

      Com esse contexto em mente, o Papa João Paulo II nos fornecer a chave para evitar que nossos relacionamentos caiam nas águas egoístas do utilitarianismo. Ele diz que a única maneira de dois seres humanos evitarem usar um ao outro é se relacionar em vista de um bem comum, como na amizade virtuosa. Se a outra pessoa vê o que é bom para mim, e adota isso como bem para si própria, “estabelece-se uma ligação especial entre eu e essa outra pessoa: a união de um bem comum e de um objetivo em comum”. Esse objetivo comum une as pessoas interiormente. Quando não vivemos nossos relacionamentos com esse bem comum em mente, inevitavelmente trataremos a outra pessoa como um meio para um fim, para algum prazer ou uso.

      Especialmente no casamento, há uma tentação a se portar de forma egoísta, a querer que o cônjuge ou os filhos se adaptem a nossos próprios planos, agendas e desejos. Por exemplo, quando se aproxima o final de semana, eu posso pensar apenas nas coisas que quero fazer – projetos que desejo completar em casa, trabalho que preciso realizar, eventos esportivos que quero assistir – sem dar prioridade ao que meu cônjuge ou meus filhos possas precisar de mim. Eu posso alegremente concordar em gastar dinheiro com coisas que são importantes para mim, mas resistir firmemente aos desejos de minha mulher de investir em algo que não me beneficia diretamente, mesmo sendo importante para nossa família.

     Entretanto, o Papa João Paulo II nos lembra que a amizade verdadeira, especialmente a amizade no matrimônio, deve ser centrada na união por um bem comum. No matrimônio cristão, esse objetivo comum envolve a união dos esposos, e o serviço um ao outro, ajudando um ao outro a crescer em santidade, e também a procriação e a educação dos filhos.

     Nossas próprias preferências e agendas devem estar subordinadas a esses bens maiores. Marido e mulher devem estar subordinados um ao outro para o bem dos filhos, buscando evitar que qualquer individualismo egoísta atrapalhe a família. Como em um time, marido e mulher trabalham em prol desse bem comum, e discernem juntos como usar melhor seu tempo, energia e recursos para atingir esses bens comuns do matrimônio.

     O Papa João Paulo II explica como a união em torno desse bem comum garante que uma pessoa não esteja sendo usada ou negligenciada por outra. “Quando duas pessoas diferentes conscientemente escolhem um objetivo comum, isso as coloca em igualdade e afasta a possibilidade de uma estar sendo subordinada a outra. Ambas... por assim dizer... estão subordinadas àquele bem que constitui o objetivo comum”.

     Sem essa finalidade comum, nossos relacionamentos inevitavelmente cairão em algum tipo de utilização da outra pessoa para nosso benefício ou prazer. No próximo artigo, consideraremos quão crucial esses pontos fundamentais de “Amor e Responsabilidade” são no trato com as atrações emocionais e físicas que tantas vezes experimentamos quando encontramos pessoas do outro sexo.

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Notas:
(1) Janet Smith, “John Paul II and Humanae Vitae” in Why Humanae Vitae was Right (San Francisco: Ignatius Press, 1993), 232.
(2) For a more extensive treatment of friendship in Aristotle, see J. Cuddeback, Friendship: The Art of Happiness (Greeley, CO: Epic, 2003).


O Autor: Edward Sri é professor assistente de Teologia do Benedictine College em Atchinson, Kansas, Estados Unidos, e autor de vários livros de Teologia e espiritualidade.

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Traduzido de: http://www.catholiceducation.org/articles/marriage/mf0078.html

Amor e Responsabilidade: evitando atrações fatais

Por Edward P. Sri (baseado no seu livro “Men, Women and the Mystery of Love”)

      Um homem almoçando em um restaurante observa uma mulher atraente em outra mesa, e sua beleza imediatamente captura sua atenção. Seu coração bate mais forte, e ele se descobre desejando vê-la de novo.


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      Mais ainda: não é a primeira vez que ela atrai seu olhar. E sua atração para ela é mais do que física. Ela trabalha para a mesma grande companhia, e ele sente-se fascinado pela sua personalidade acolhedora, seu sorriso cativante e sua gentileza no trato com os outros. Ele está apaixonado pela sua brilhante personalidade tanto quanto pela sua beleza natural.

      Atrações básicas como essa acontecem todo tempo entre homem e mulher. Algumas vezes elas se fazem sentir bem rapidamente: um homem na fila do supermercado pode se sentir imediatamente atraído por uma mulher que vê passar. Uma mulher na Igreja pode notar um homem rezando no final da Missa, e se descobrir pensando nele o resto do dia. Algumas vezes as atrações mais profundas demoram um longo tempo para se desenvolver: um homem e uma mulher que foram amigos ou colegas por muitos meses podem gradualmente se atraírem um ao outro emocionalmente e fisicamente.

      Em seu livro “Amor e Responsabilidade”, João Paulo II analisa a anatomia de uma atração. O que está realmente acontecendo quando homem e mulher se encontram atraídos um pelo outro?

A anatomia de uma atração

      Comecemos explicando alguns dos termos que o Papa João Paulo II utiliza. Em um nível mais básico, atrair alguém significa ser considerado por aquela pessoa como um bem. Por sua vez, ser atraído por outro alguém significa que eu percebo algum valor naquela pessoa (valor tal como sua beleza, virtude, personalidade etc.), e que eu respondo a esse valor. Essa atração envolve os sentidos, a mente, a vontade, as emoções, e nossos desejos.

      A razão pela qual homem e mulher se atraem tão facilmente um ao outro é o impulso sexual. Lembre-se que o impulso sexual é a tendência de procurar o sexo oposto. Com o impulso sexual, ficamos particularmente orientados na direção das qualidades fisiológicas e psicológicas de uma pessoa do sexo oposto – seu corpo e sua masculinidade ou feminilidade. João Paulo II chama essas qualidades físicas e psicológicas de “valores sexuais” de uma pessoa.

      Portanto, uma pessoa fica facilmente atraída por outra do sexo oposto de duas maneiras: fisicamente e emocionalmente. Primeiramente, um homem fica atraído fisicamente pelo corpo de uma mulher, e uma mulher fica atraída ao corpo de um homem. O Papa chama essa atração ao corpo de sensualidade.

      Em segundo lugar, um homem também se atrai emocionalmente pela feminilidade de uma mulher, e a mulher fica emocionalmente atraída pela masculinidade de um homem. O Papa João Paulo II chama essa atração emocional de sentimentalidade.

      Nos próximos artigos, refletiremos sobre o papel das emoções e da sentimentalidade. No presente artigo, focalizaremos a atração sensual que homem e mulher experimentam um pelo outro.

Razão e sensualidade

      Como vimos, a sensualidade está ligada ao valor sexual inerente ao corpo da pessoa do sexo oposto. Tal atração não é má em si mesma porque o impulso sexual deve nos levar não apenas para o corpo, mas para o corpo de uma pessoa. Portanto, uma reação sensual inicial deve nos orientar para a comunhão pessoal (não apenas a união corporal), e pode servir como um ingrediente do autêntico amor se estiver integrado com aspectos mais elevados e nobres do amor – tais como a vontade, a amizade, a virtude, ou o compromisso de doação de si.

      Não obstante, o Papa diz que as atrações sensuais, por si mesmas, podem levar a grande perigos. Primeiramente, “a sensualidade por si própria não é amor, e pode facilmente se transformar no seu oposto”. A razão pela qual a sensualidade pode ser tão perigosa é que, por si mesma, ela cai facilmente em utilitarianismo. Quando somente a sensualidade é instigada, experimentamos o corpo da outra pessoa como “um potencial objeto de prazer”. Reduzimos a pessoa a suas qualidades físicas – sua beleza, seu corpo. E vemos a pessoa primariamente em termos do prazer que podemos experimentar a partir dessas qualidades.

      O que é mais trágico aqui é que o desejo sensual, que deveria nos orientar na direção da comunhão com a pessoa do sexo oposto, pode na verdade impedir de amar essa pessoa. Um homem, por exemplo, pode sensualmente ponderar em sua mente ou ativamente procurar o corpo de uma mulher como meio para gratificação sexual. E ele pode fazer isso sem nenhum interesse real nela como pessoa. Ele pode concentrar-se em seus valores sexuais – e no prazer que consegue a partir desses valores – ao ponto tal em que sua atração sensual ao seu corpo na verdade o impede de responder ao seu valor como pessoa. É por isso que o Papa João Paulo II diz que a sensualidade por si mesma cega a pessoa. “A sensualidade em si mesma tem uma ‘orientação de consumo’ – dirige-se primariamente e imediatamente ao ‘corpo’: toca a pessoa apenas indiretamente, e tende a evitar o contato direto”.

Gosta de chocolate?

      Em segundo lugar, o Papa diz que a sensualidade, em si mesma, não apenas deixa de alcançar a pessoa, mas chega até a falhar na apreensão da beleza do corpo. Ele explica como a beleza é experimentada através da contemplação, não através do pujante desejo de usufruir. Quando estamos contemplando o esplendor de uma paisagem, um pôr do sol, uma obra de música ou um trabalho artístico, ficamos tomados pela beleza. Essa contemplação da beleza traz paz e alegria. Isso é muito diferente de uma “atitude de consumo” que visa explorar um objeto pelo prazer – uma atitude que traz inquietação, impaciência, e um intenso desejo pela satisfação.

      Talvez uma analogia nos ajuda a entender melhor. Uma vez tive a oportunidade de ver o trabalho de um “artista de chocolate”. O artista tinha uma exposição de dezenas de esculturas elaboradas de barcos, flores, pássaros, torres, e prédios. O que fazia essas esculturas serem tão impressionantes é o fato de que elas eram todas feitas de chocolate ao leite e chocolate branco!

      Eu posso ter duas atitudes diferentes com relação a essas esculturas de chocolate. Por um lado, eu poderia contemplá-las como obras de arte, admirando sua beleza e me permitindo ser tomado pela sua imensidade, suas proporções perfeitas, os detalhes intricados, e o trabalho do artesão, ficando assim maravilhado de que essas delicadas obras de arte tenham sido feitas somente de açúcar e cacau.

      Por outro lado, eu poderia ignorar o fato de que essas esculturas são belas obras de arte feitas para serem contempladas, e vê-las primariamente como doces a serem devorados – chocolates gostosos que iriam satisfazer meus desejos! Essa última abordagem, entretanto, seria uma degradação das obras de arte do artesão, reduzindo-as a meros objetos a serem consumidos para meu próprio prazer.

      De modo similar, a sensualidade por si mesma falha em ver o corpo humano como uma bela obra-prima da criação de Deus, pois reduz o corpo a um objeto a ser aproveitado para satisfazer os desejos sensuais de outrem. “Portanto, a sensualidade realmente interfere com a apreensão do belo, até mesmo da beleza corporal, sensual, pois introduz uma atitude de ‘consumo’ ao objeto: ‘o corpo’ é então considerado como um potencial objeto a ser usufruído”.

Michelangelo e Playboy

      Isso também ajuda a explicar uma grande diferença entre a pornografia e a boa arte clássica que mostra a nudez de uma pessoa. Tanto a revista Playboy quanto algumas obras de arte dos Museus Vaticanos, por exemplo, podem apresentar os órgãos sexuais de um corpo humano. Na verdade, algumas pessoas na indústria pornográfica dizem que suas figuras são apenas outra forma de arte, mostrando a beleza do corpo. Alguns defensores da pornografia chegaram a perguntam porque a Igreja condena a pornografia mas permite a nudez mostrada em alguns de seus museus!

      A pornografia da Playboy, entretanto, não chama atenção para a beleza do corpo humano. Chama atenção para o corpo como objeto a ser usado para a satisfação sexual pessoal. No final, é uma redução da pessoa humana ao valor sexual do corpo. Ao contrário, a boa arte que mostra o corpo não é uma redução da pessoa, mas um engrandecimento dela, levando-nos a contemplar o mistério da pessoa humana como uma obra-prima da criação de Deus.

      A boa arte nos leva a uma pacífica contemplação da verdade, do bem, e do belo, incluindo a verdade, o bem e a beleza do corpo humano. A pornografia, por outro lado, não nos leva a tal contemplação, mas instiga em nós o desejo sensual pelo corpo de outra pessoa como objeto a ser explorado para nosso próprio prazer. Falando em termos simples: provavelmente não há tantos homens que caem em pecado ao contemplar as famosas pinturas de Adão e Eva na Capela Sistina. Mas provavelmente poucos serão os homens que não cairão em pensamentos impuros ao olhar para fotos da Playboy. (1)

Escravos da sensualidade

      Uma terceira razão pela qual João Paulo II se preocupa com a sensualidade é que, se ela é deixada “solta”, nós nos tornamos escravos de tudo que estimula nosso desejo sensual. Por exemplo, um homem dado à sensualidade vê sua vontade ser tão fraca a ponto de se deixar levar por qualquer valor sexual que apareça imediatamente aos seus sentidos. Sempre que encontra uma mulher vestida de certa forma, ele não pode evitar de olhar para ela com pensamentos impuros. Sempre que vê imagens de mulheres na TV, na Internet, nos outdoors, ele não consegue resistir e olha para elas, pois deseja o valor sexual da mulher e quer aproveitar o prazer que obtém nesses olhares.

      Especialmente em uma cultura altamente sexualizada como a nossa, somos constantemente bombardeados com imagens sexuais explorando nossa sensualidade, fazendo-nos focalizar o corpo do sexo oposto. Podemos, de fato, ser facilmente escravizados, pulando de um valor sexual para o outro, e para o outro, e para o outro, à medida que eles aparecem para nossos sentidos. Como observa João Paulo II, a sensualidade por si só “é caracteristicamente volátil, voltando-se para onde quer que encontre esse valor, sempre que um ‘possível objeto de prazer’ aparece”.

“Eu posso olhar, mas não posso tocar”

      Além do mais, em um de seus pontos mais profundos nessa seção, o Papa João Paulo II nos alerta que uma pessoa pode usar o corpo de outra pessoa mesmo quando essa pessoa não está fisicamente presente. Um homem, por exemplo, não precisa ver, ouvir ou tocar uma mulher para se aproveitar de seu corpo para seu próprio prazer. Através de sua memória e imaginação, ele “pode fazer contato até mesmo com o ‘corpo’ de outra pessoa que não está fisicamente presente, experimentando o valor desse corpo na medida em que constitui um ‘possível objeto de prazer’”.
 
      Vivemos em uma cultura onde muitos homens dizem a si mesmos: “O que tem de errado em ter pensamentos impuros por uma mulher? Não estou machucando ninguém quando faço isso!” Até mesmo alguns homens casados podem pensar: “Não estou cometendo adultério quando olho para uma mulher desse jeito. Ainda sou fiel à minha esposa. Eu posso olhar; só não posso tocar”. Entretanto, devemos nos lembrar das severas palavras de Cristo sobre esse assunto: “Todo aquele que olha para uma mulher com luxúria já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5, 28).

      Os insights de João Paulo II nos ajudam a explicar o que realmente está acontecendo quando um homem olha com luxúria para uma mulher, e porque consentir com pensamentos impuros e fantasias sexuais é sempre moralmente errado e degradante para as mulheres. Na mente de um homem com luxúria, a mulher fica reduzida ao valor sexual do seu corpo. Ele a trata não como uma pessoa, mas como um corpo a ser explorado para seu próprio prazer, em seus olhares e pensamentos. E isso pode acontecer mesmo quando a mulher não está por perto, pois ele pode ainda manter contato com seu corpo e explorá-la para sua satisfação sexual em sua memória e imaginação. Isso é utilitarianismo grosseiro – muito distante do autêntico amor.

      Em resumo, João Paulo II enfatiza que a sensualidade sozinha não é amor. Pode ser “matéria-prima” para o desenvolvimento do amor verdadeiro. Mas esse desejo pelo valor sexual do corpo deve ser complementado por outros elementos mais nobres do amor, tais como a boa vontade, a amizade, a virtude, o comprometimento total, e o amor-doação-de-si (temas a serem discutidos nos próximos artigos). Se a sensualidade não está cuidadosamente integrada com esses elementos mais nobres do amor, o desejo sensual pode ser danoso a um relacionamento. Na verdade, pode destruir o amor entre um homem e uma mulher, e pode impedir que o amor possa um dia se desenvolver entre um homem e uma mulher.

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Notas:
(1) O Papa discute especificamente esse tópico sobre arte e pornografia posteriormente em “Amor e Responsabilidade”. Primeiramente, ele diz que a arte pode às vezes representar o aspecto sexual do homem e da mulher e seu amor um pelo outro. “A arte tem um direito e um dever, pelo bem do realismo, de reproduzir o corpo humano, e o amor de homem e mulher como o são na realidade, a fim de falar a verdade integral sobre eles. O corpo humano é parte autêntica da verdade sobre o homem, assim como seus aspectos sensuais e sexuais são parte autêntica da verdade sobre o amor humano”. O Papa João Paulo II segue dizendo, entretanto, que seria errôneo mostrar os valores sexuais de maneira a obscurecer o verdadeiro valor da pessoa. E seria errôneo retratar o aspecto sexual do relacionamento de um casal de modo a obscurecer o autêntico amor de um pelo outro, que é muito mais do que sexual. Esse é o problema com a pornografia: ela chama atenção para o aspecto sexual de um homem ou mulher de um modo que nos impede de ver o verdadeiro valor da pessoa e a verdade integral do amor. “A pornografia é uma marcada tendência a acentuar o elemento sexual com o objetivo de induzir o espectador ou leitor a acreditar que os valores sexuais são os únicos valores reais da pessoa, e que o amor nada mais é do que experimentar somente esses valores sexuais. Essa tendência é danosa, pois destrói a imagem integral daquele importante fragmento da realidade humana, que é o amor entre homem e mulher. Pois a verdade sobre o amor humano sempre consiste em reproduzir o relacionamento interpessoal, não importando o quanto os valores sexuais possam predominar naquele relacionamento. Assim como a verdade sobre o homem é que ele é uma pessoa, não importando o quão conspícuos são os valores sexuais em sua aparência física.”

O Autor: Edward P. Sri é professor assistente de Teologia do Benedictine College, em Atchison, Kansas, Estados Unidos, e autor de vários livros de Teologia e espiritualidade.

Fonte:http://vidaecastidade.blogspot.com.br/