Reflexão sobre a modéstia

quarta-feira, 30 de março de 2011

“Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus” (Rom 8,8)

      Como deve ser difícil olhar para a realidade em que vivemos, e querer estar à parte dela. Seria uma vergonha não acompanhar os passos da contemporaneidade que, de alguma forma tenta imputar nas pessoas todas as suas tendências, pensam alguns. De fato, cada época tem o seu mal, e para cada mal há os seus adeptos e os que lutam contra ele. Quem estará certo, afinal? Para essa pergunta ,vamos buscar a resposta em algum referencial. Se o nosso ponto de partida é Jesus Cristo que, por amor se doou a nós para a nossa salvação, então teremos como base a sua vida e sua Palavra, pois atentos à Boa Nova saberemos corresponder aos desígnios do Senhor, tendo em vista que ele é a Palavra de Deus encarnada. Agora, se o nosso ponto de partida é o próprio eu, a satisfação estará em dar crédito a todos os prazeres possíveis para um provável gozo da vida, mas os pressupostos para tal se encontram no mundo e em suas leis, contrárias à lei da vida, que é a lei de Deus.
      Nesse sentido, percebemos o despertar de muitos movimentos dentro da Igreja para socorrer os que fizeram a segunda opção. Mas para convencer de que a primeira alternativa é a que nos garantirá segurança e certeza da felicidade, temos que dar o exemplo e, como o próprio Senhor, aplicar à vida a fé e o amor de Deus. Vejamos que o amor é a justificativa para tudo, inclusive para a Encarnação do Verbo, que se deu gratuitamente. A nossa firmeza só pode estar no Amor.
      Posso afirmar aqui que, o motivo de tantos problemas do “mundo religioso”, na falta da prática da fé, na displicência para com o compromisso batismal, para a banalização de si e de toda a criação ,é porque ainda não compreendemos verdadeiramente o amor de Deus. Quando amamos queremos ser correspondidos, não é? Pois bem, a imensidão do amor de Deus reflete a sua infinitude. Jamais poderemos retribuir o seu amor na mesma medida, mas isso não é motivo para não querermos retribuir de forma mínima a ele. Creio que essa palavra retribuir não seja muito adequada, tendo em vista a gratuidade de Deus. Mas se estamos impelidos do próprio amor, faremos o mínimo para reconhecer que ele nos ama.
Aqui vale lembrar as palavras do grande São Francisco de Assis: “o Amor não é amado”.   Para o pobrezinho de Assis é um absurdo pensar que o Amor é ignorado. Sua vida então, que motivou muitos seguidores, os seus confrades, era a expressão de alguém que queria dar a Jesus o mínimo que a nossa frágil condição humana pode oferecer. Quantos pecados e misérias nos envolvem! Mas nada disso deve nos motivar ao desespero e ao desânimo, ao contrário, deve ser impulso de nos lançarmos ainda mais ao amor misericordioso do Sumo Bem.
      Com certeza optar por Jesus Cristo é um grande desafio. Vejamos os religiosos: as pessoas não aceitam que haja pessoas que renunciaram a tudo para seguir outro caminho. O mundo pensa que não há outra forma de viver e de ser feliz. Mas é aí que todos se enganam. Pois, enquanto uns querem a segunda opção, que apontamos acima, e se enganam pensando que a felicidade da vida e a realização de todos os prazeres carnais bastam em si, outros querem buscar a felicidade concreta e eterna. Todos podem escolher a opção pelo bem eterno, e nem precisam virar monges ou religiosos para conseguir alcançá-lo. Bastam-nos ,atitudes que expressem Jesus, pois é disso que o mundo precisa: de pessoas que levem consigo, em sua vivência e em seus atos a presença de Deus.
E como a ponto fraco da sociedade hodierna é a sexualidade, vale-nos renunciar aos prazeres que envolvem às más paixões e, doando-se ao Senhor, mostrar ao mundo que a verdadeira felicidade não se encontra aqui. É válido renunciar a toda essa cultura do sexo, do corpo, da depravação e entender a teologia do corpo, que é a compreensão de nós como templos do Espírito Santo e obras vivas de Deus.
      Filhos como São Francisco de Assis e cavaleiro da Imaculada, São Maximiliano Maria Kolbe viveram uma virtude do próprio Jesus, que foi o amor no sofrimento. E não só amar porque se sofre, mas aceitar o sofrimento por amor: “amar é sofrer”. E como sofremos quando nos privamos de nos agradar, que “tragédia” andar fora dos costumes ditados pelos que, querem o bem finito e não visualizam a vida futura. O santo polonês quis consumar o amor-caridade, doando-se pelo Amor até o fim, terminando sua vida com um salto para o Céu.
      Para saborear o gosto da eterna luz, devemos não querer sentir o gosto pelas coisas inferiores. É uma luta contra a própria humanidade, contra a concupiscência, mas é uma busca pela garantia da Pátria Celestial. Subamos ao monte onde Cristo está e de lá olhemos o mundo. Com essa experiência só teremos vontade de voltar ao mundo para anunciar o Reino eterno.
      A insistência por uma modéstia no vestir, no falar, no pensar é para que não sejamos condenados por coisas tão insignificantes. O que custa ter consciência cristã e agir por caridade para com o próximo e amor a Deus despojando-nos de atitudes que só levam ao mal e à morte interior. Os piores horrores podem afligir a alma por meio de mínimas distrações de nossa parte. Além de vigiar, devemos dar uma reposta segura e concreta. “Que seu sim seja Sim, que seu não seja Não”.
      O profeta Joel exorta: “Rasgai vossos corações e não vossas vestes” (cf. Joel 2,13). Com isso, entendemos que, a nossa atitude deva ser sincera e madura. De dentro do coração que deve brotar a nossa vontade de realizar os planos do Senhor. Eis-nos aqui Senhor! Para fazer tua vontade, para viver no seu amor. E a vida vai mostrar o que realmente está no nosso interior.
      Ó Virgem Maria Imaculada, Nossa Mãe Puríssima, sem pecado concebida, dai-nos a graça da parte de Deus de sempre realizar a vontade do Pai, renunciando aos prazeres do mundo e as vontades da carne, almejando as delícias eternas. Dai-nos a graça da fidelidade e da perseverança para que,percorramos esta peregrinação sedentos de sua luz, para habitarmos um dia à Cidade Eterna dos bem-aventurados. Assim seja.

Escrito por Israel Sobrinho OFM Conv.

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